quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

ENTREVISTA com o TRI : por GISELE BARÃO

No início do mês de dezembro, o De Kroeg art(bar)galeria recebeu uma decoração diferente: Desenhos espalhados pelas paredes faziam referência a cantores de Jazz, pessoas mutiladas e, principalmente, árvores. Era a exposição do desenhista Tri. A ideia veio da marca de roupas Novedez Clothing, que recentemente lançou uma coleção de camisetas com desenhos do artista, que já teve os desenhos expostos outras duas vezes. Tri nasceu na capital paranaense, mas hoje vive em Cascavel, a oeste do estado. Ele fala de como teve contato com o grafitti, das influências nos seus desenhos e outros aspectos do trabalho que já completa oito anos: “Gosto de mudar a ‘rotina visual’ da cidade, preciso me enxergar nas ruas todos os dias nos dias. Quanto mais árvores na cidade, melhor, certo?”.




Stick com caneta bic, retro e corretivo. 2009


De onde surgiu o nome Tri?
Surgiu porque as iniciais do meu nome completo são três letras iguais: N.N.N.
Passei a assinar como árvore principalmente depois que meu nome foi publicado errado em um zine: ao invés de Three (o número três, em inglês), saiu Tree (árvore, em inglês). E aí começaram a aparecer as árvores nos meus desenhos. Pessoas cortando árvores, árvores cortando pessoas, pessoas se transformando em árvores...


Cartaz "Tekila", Curitiba, Centro. 2003

Quais são suas influências?
Vincent Van Gogh, Osgemeos, Felipe de Lima, Herbert, Onesto, Thiago Syen, Gorey, Horfé, O’Clock, Remio. Mark Ryden, além de tudo que eu já vi e ainda vou ver, porque todos os dias recebo uma influência diferente.


Desenho de Thiago Syen . 2009

Em que você se inspira na hora de desenhar?
Em situações e expressões que envolvem o ato de fazer grafitti/pixação: o clima de tensão antes e depois de fazer uma bomba (espécie de assinatura do autor do grafitti), por exemplo. Gosto de desenhar crianças porque enfatiza a ideia da inconsequência nos atos, porque no grafitti não se faz nada sem ser inconsequente. Outra coisa de que gosto é distorcer expressões populares, e costumes do senso comum, como dar o lugar para velhinhos no ônibus. Desenho muitas máscaras nos meus personagens, porque acredito que todas as pessoas são falsas, além da referência ao próprio grafitti, pelo cara não querer ser identificado.
E também me inspiro em filmes e trechos de músicas.



Stick com caneta bic, retro e corretivo. 2009

Que tipo de filmes e músicas?
Filmes tristes, com sangue, brutalidade. Filmes de perdedor. Já desenhei sobre os filmes O Cheiro do Ralo, Clube da Luta, Minha vida sem mim, Kids, O Poderoso Chefão. Quanto às músicas, ouço muito rap, principalmente o Racionais Mc’s, e Jazz.


KIDS


Como aconteceu o contato com o grafitti?Quando eu tinha uns 14, 15 anos, época em que meu primo começou a se envolver com pixação. Ele me apresentou as letras e passei a procurar mais coisas em revistas, internet e, principalmente, depois que eu comprei meu primeiro VHS sobre grafitti, Dirty Handz (coletânea de cenas das ações de grafitti em Paris, de 2000). Quando assisti, decidi que queria fazer parte daquilo.

Como surgiu a ideia das camisetas?
Eu conheço o dono da marca há uns 10 anos, e em outubro deste ano ele me pediu seis desenhos de qualquer tema para fazer as estampas de trinta e uma camisetas. Foram selecionados três desenhos: Dois sobre pixação e um que faz referência ao filme Gummo. Ele organizou uma exposição com as camisetas e com cartazes que fiz no período de um mês, com látex e marker.


Tri



Quais são os planos para 2010? Mais alguma exposição prevista?
Depois das férias de verão, talvez role outra exposição em Curitiba. No ano que vem pretendo desenvolver um projeto da minha irmã, que é professora de História e estudiosa do assunto, para ensinar crianças de escolas públicas a fazer grafitti. E pretendo fazer uns desenhos mais otimistas (risos).


TRI www.flickr.com/arvore1/ neitonnn@hotmail.com

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